Depois da eólica chegou o momento do biogás
A busca por mais fontes alternativas de energia limpa no mundo segue avançando e alguns países, como a Alemanha, Portugal e Brasil, o uso de novas tecnologias está permitindo a mudança rápida na matriz e na política energética. Depois do salto da geração eólica é chegado o grande momento do biogás e produzido a partir […]
Por Lucas Costa
24 março 2016 - 13:16
A busca por mais fontes alternativas de energia limpa no mundo segue avançando e alguns países, como a Alemanha, Portugal e Brasil, o uso de novas tecnologias está permitindo a mudança rápida na matriz e na política energética.
Depois do salto da geração eólica é chegado o grande momento do biogás e produzido a partir da degradação de materiais orgânicos, apostam os envolvidos com o setor.
Para se ter uma noção mais clara sobre essa possibilidade, a Associação Brasileira de Biogás e Biometano – ABiogás desenvolveu um estudo inédito sobre o desempenho operacional dessa fonte e alinhada com os dados da Empresa de Pesquisa Energética, orgão ligado ao Ministério de Minas e Energia.
O biogás tem capacidade para contribuir com até 12% da geração de energia elétrica do País, o equivalente a 23 bilhões de metros cúbicos ou 37 milhões de megawatts (MW) por ano. O custo também é relevante, entre 30% a 40% menor do que atualmente e pouco mais de um terço da energia gerada pela usina de Itaipu por ano.
Entretanto, o Brasil só utiliza 0,05%, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, o que representa um número tímido na capacidade instalada, 70 MW e produzida no Sul do País, pioneiro no desenvolvimento da tecnologia do biogás já na década de 90 e em pequenas propriedades de suinocultura.
“O biogás está nas pequenas propriedades, na geração distribuída, mas não em grandes blocos como as demais fontes. Embora os diagnósticos no leilões de Reserva, A-3, e também no de energia nova, A-5, mostrem uma tentativa de inserir ainda mais volume de biogás, não é tão simples assim, A geração do biogás fica distante dos grandes blocos de energia e ainda existem barreiras para superar, por exemplo, a da logística”, considerou o presidente da ABiogás, Cícero Bley ao Setor Energético.
Os pequenos produtores, conta Bley, seguem para as chamadas públicas e seria necessário mudar alguns dispositivos para torná-los mais regionais do que convencionais.
“O que se perde de matéria-prima para produzir o biogás é incalculável, resta ver a participação do setor agropecuário no PIB nacional, algo em torno de 40%. Imagine o volume de energia que poderia ser gerado com esse aproveitamento. Vale ressaltar que a fonte de energia elétrica convencional é utilizada para resfriar, irrigar, entre outras utilidades. Numa propriedade essa energia é importada de milhares de quilômetros pelo SIN e subsidiada a um custo muito alto ”, avalia o presidente da ABiogás.
O setor da produção de alimentos, que é responsável por 40% do PIB Nacional, é gerador de um em cada quatro empregos de brasileiros, mas que também é consumidor de 37% da disponibilidade interna de energia elétrica nacional.
Em 2015, a Associação elaborou 10 temas que estão sendo trabalhados para dar mais visibilidade a essa fonte alternativa de energia limpa e, principalmente, que o biogás seja reconhecido como combustível e utilizando a mesma logística. Essa condição poderia contribuir com os PIBs regionais e através dos recursos gerados reduzir a carga tributária. O estudo já está sendo discutido com autoridades do setor elétrico brasileiro.
“Os sistemas de financiamentos para o desenvolvimento de tecnologias rurais não serve para energia. Cada processo precisa da garantia física. A política do gás varia de estado para estado e precisa de uma dimensão nacional. Com isso, o Programa Nacional de Gás e Biometano, criado pela ABiogás e com apoio do Ministério de Ciência e Tecnologia, mostra a necessidade de pelo menos US$ 7 milhões para criar uma estrutura. Nós consideramos que o biogás de segunda geração precisa de credibilidade”, analisa Bley .
O Sul produz mais proteína animal e outras regiões dos País também geram outras matérias-primas para a utilização do biogás, daí a necessidade de aproveitar esse potencial.
“O mundo entrou na era dos combustíveis gasosos. A era da energia dos gases está em ascensão, resta ver a utilização cada vez maior do gás em usinas térmicas. A possibilidade de movimentar a biomassa para criar as térmicas a gás pode fazer com que o Brasil entre pra história. Um bom exemplo de que é preciso avançar em novos combustíveis vem dos Estados Unidos com o gás de xisto, que avançou e deu fôlego ao país mais importante do mundo e o que mais utiliza combustíveis fósseis, seguido da China”, explica e completa: ” Tamanha a importância do gás, que o setor automotivo a todo momento desenvolve tecnologia para a utilização do gás em seus novos veículos.”
De acordo com o estudo da ABiogás, o metano (CH4) desperdiçado possui potencial de impacto de efeito estufa 21 vezes maior do que o do gás carbônico (CO2); o biometano (CH4) desperdiçado e emitido na atmosfera é 21 vezes mais poluente que o gás carbônico (CO2). O uso do insumo eliminaria esse passivo ambiental.
“O biogás tem potencial para avançar na lista de combustíveis, principalmente, neste momento que o mundo discute as reservas e a produção de petróleo. A queima mais primária do petróleo vai ficar cada vez mais cara. Definitivamente estamos na era do gás. Essa evolução é que acreditamos”, concluiu o presidente da ABiogás.
Outros números
Energia mais barata: a produção de 1 megawatt custa: R$ 2,5 milhões -biometano; R$ 3 milhões – microcentral hidrelétrica; e R$ 5 milhões – solar.
Usos múltiplos:
A energia elétrica subiu 51% no Brasil, o biogás está disponível de graça. Já a energia térmica: uso em termelétricas substituindo o carvão, mais poluente.
Na veicular: veículos com biometano emitem 70% menos poluentes que um similar a diesel e o quilômetro rodado é três vezes mais barato.
Vale ressaltar que o Leilão para Energia de Reserva/2017, A-3 da ANEEL, publicado em outubro de 2014, fixou o preço máximo ofertado de R$ 169,00/MWh para a geração com biogás/biometano.
Fonte: SetorEnergetico